Por Gustavo Cerbasi
Em meus primeiros trabalhos de consultoria, eu procurava ser racional ao orientar meus clientes, fazendo contas e provando a eles que um cafezinho por dia seria suficiente para comprar um automóvel novo em 30 anos. Com argumentos assim, convenci muitas pessoas a começar uma poupança de longo prazo. Alguns clientes, muito motivados, passaram do ponto de equilíbrio e começaram a poupar bem mais do que o sugerido — cerca de 15% da renda —, sonhando com metas ousadas, como conquistar o primeiro milhão em poucos anos.
Aprendi que fazer as pessoas poupar não é difícil, desde que haja bons argumentos para isso — normalmente um grande sonho do interessado. Porém, muitos dos que orientei naquela época começaram a se desfazer do patrimônio poupado, tendo inúmeras razões para isso. Em alguns casos, motivados por um problema de saúde; em outros, pela perda de uma pessoa querida; muito comum foi usar a poupança para custear o fim de um casamento. Com o passar dos anos, percebi que fazer poupança significava, para muitos, privar-se da felicidade presente para tê-la no futuro. E a infelicidade acaba com a motivação de poupar.
Isso tudo mudou minha forma de atuar e de orientar. Hoje, vejo que é uma vida feliz e segura que garante a poupança, e não o contrário. É por isso que, quando me consultam sobre a escolha da moradia, proponho antes que as pessoas me descrevam a verba prevista para os gastos com qualidade de vida, lazer, prazer e pequenos mimos pessoais, e também a verba para guardar para um futuro sólido. Somente após definir essas duas verbas é que trato da verba para a escolha do padrão de moradia. Um imóvel mais simples oferece menos espaço, mas comporta uma felicidade que não caberia em um lugar mais caro.
Esse foi o meu maior aprendizado. Se um cafezinho diariamente compra um carro em 30 anos, a falta do mesmo cafezinho pode levá-lo a perder o emprego, ao acabar com tardes produtivas, com o networking e com um pequeno e motivante prazer pessoal. O futuro é importante, mas também é a simples continuação de sua vida presente. Valorize mais seu hoje, sem esquecer o amanhã.
Revista Você S/A. Edição 126. Dezembro de 2008.
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